Daniela Araújo e nós: qual é a Graça?

Na última semana o meio evangélico foi surpreendido pela revelação de que a cantora Daniela Araújo seria usuária de drogas. Vimos muitas posições extremadas nesse caso: de um lado a minimização da gravidade do fato, do outro, um julgamento implacável e condenatório. Alguns dias atrás, a própria cantora em um de seus posts no twiter havia desabafado: “como as drogas aprisionam, adoecem a mente e o corpo! Elas iludem com sensações que passam rápido e depois vem a realidade angustiante”.

Embora até esse momento, não exista uma manifestação oficial da cantora, admitindo essa situação, infelizmente, foi através da exposição daquilo que pode ser sua própria experiência, que a discussão sobre o drama das drogas pode ser mais uma vez levantada, também entre nós evangélicos.

Sabemos que quanto a esse drama, a cantora gospel não é uma exceção. Seja para vencer no esporte, para dormir ou ficar mais tempo acordado, ou para fugir de uma realidade infeliz, as drogas lícitas e ilícitas estão cada vez mais acessíveis a todos. Na escola e na faculdade, no ambiente de trabalho ou no entretenimento com os amigos, ela pode estar lá. Ela desconhece limites sociais, pois atinge pobres, mas também pessoas que aparentemente possuem tudo para ser felizes. Como nesse caso, frequentemente celebridades são expostas exatamente por esse motivo.

Mas o que chocou e indignou a muitos é o fato desse caso envolver uma personagem cristã. E aí, o fato a ser admitido é que para as drogas, também não existem limites religiosos: ateus e cristãos estão sujeitos a seus perigos. Basta uma visita nas casas de recuperação para constatar que muitos dos internos tiveram uma relação anterior com o evangelho. Basta uma pesquisa séria entre os próprios jovens da igreja local, para perceber que esse é um drama mais próximo do que muitos imaginam.

Por isso, acredito que antes de qualquer condenação precipitada, podemos e devemos questionar as causas. Tudo isso que tem acontecido, deveria nos fazer pensar o que faz uma pessoa jovem, inteligente, cercada de amigos, que tenha aparentemente tudo na vida, se entregar ao mundo das drogas? As repostas rápidas e prontas podem ser: curiosidade, religiosidade, falta de compromisso com Deus e outras nessa mesma linha. Mas, com uma reflexão um pouco mais ponderada, poderemos encontrar respostas uma pouco mais complexas, tais como: insegurança ou autoconfiança, desejo de se sentir aceito e independente, a fuga dos problemas, inclusive emocionais, entre outras.

O que pode ser o drama da cantora gospel, também pode ser o drama de milhares de cristãos anônimos e comuns. Pessoas que por alguma razão acabaram, deliberadamente ou não, aprisionados pelos vícios das drogas. Para todos estes e também para a Daniela, existe uma verdade impressionante e transformadora: a maravilhosa graça de Deus. Essa graça foi manifestada em Cristo Jesus por sua morte que nos trouxe perdão pelos nossos pecados do passado, os de hoje e os de amanhã. Ela é mais poderosa do que qualquer efeito alucinógeno causado pelas drogas. Ela não é um escape da realidade, mas nos confronta e nos ajuda a encará-la. Ela nos iguala, e assim nos constrange a não decretarmos a condenação imediata da vida alheia. Mas também é ela que nos desafia a viver uma vida longe de todo e qualquer tipo de vício e pecado. A graça de Jesus é tudo para nós. Ela é o antídoto e o tratamento. É pela graça de Jesus que não caímos, e também , é por meio dela, que podemos levantar. Essa graça age em nós e por meio de nós.

Com base na graça de Deus, devemos conversar sobre esse assunto em nossos encontros. Sempre que posso, especialmente falando aos jovens, os desafio a ficar longe das drogas “lícitas” e ilícitas. Destaco que, infelizmente, o isso de bebida alcoólica tem se tornado comum para os jovens cristãos nos ambientes que este frequenta. Sem querer entrar no mérito da discussão teológica, se a Bíblia permite ou proíbe, acredito que temos razões e exemplos suficientemente fortes para evitar o uso das bebidas alcoólicas, sem contar a experiência de que para muitos, o álcool é uma porta de entrada para outras drogas.

Com base na graça de Deus, os pais devem conversar com seus filhos sobre isso, os líderes de jovens e estes devem discutir esse assunto que tanto sofrimento traz ao usuário ou viciado, e às suas famílias, amigos e a igreja. Com base na graça de Deus, a igreja deve orientar para um estilo de vida coerente com a graça. Dependendo dos lugares que frequentamos, do tipo de festa que participamos, teremos mais facilmente acesso ao uso de drogas. Devemos fazer de tudo para evitar que novos jovens recorram às drogas como alternativa para seus problemas.

Mas, a graça de Deus também é manifestada por meio de nós, quando somos, através da igreja, uma comunidade terapêutica, apoiando e cuidando daqueles que caem no terrível mundo das drogas. O discipulado é uma ferramenta fundamental nesse processo de ajuda. Discipulado é o acompanhamento constante, o pastoreio continuo, pois, infelizmente, mesmo após deixar alguns vícios muitas pessoas acabam retornando a ele. Muita oração, devoção e o enfrentamento diário são necessários para sair do mundo dos vícios. Esses exercícios são menos difíceis quando se pode contar com relacionamentos saudáveis de amizade.

Aos que nunca tiveram qualquer tipo de envolvimento com qualquer tipo de drogas, aos que um dia usaram mas não se viciaram, e mesmo aos que hoje estejam presos em qualquer tipo de vício, acreditem, a graça é para nós! Qual é a graça para Daniela Araújo e para nós? A graça é divina, é perdoadora, é libertadora, é transformadora, é aceitadora, é fortalecedora, é restauradora, ela nos leva a Cristo, o único em que podemos encontrar paz!

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