No livro do Apocalipse encontramos o recado de Jesus para sete igrejas da Ásia menor (1:11). Trata-se de sete igrejas reais e históricas, que enfrentavam os problemas mencionados. Estas sete igrejas não eram as únicas da Ásia menor, mas há uma razão porque apenas “sete” foram escolhidas. Este número se repete 54 vezes no Apocalipse, e, simbolicamente, comunica a ideia de completude. As sete igrejas, conquanto comunidades históricas e reais, representam a totalidade das igrejas de todos os tempos e lugares. Os recados para as sete igrejas do Apocalipse são recados para todas as igrejas e para todos os cristãos. E como Jesus começa estes recados? Começa chamando atenção de uma igreja que havia perdido aquilo que é o principal, aquilo que deve estar em primeiro lugar numa igreja que se diz cristã: o amor. Este tema esta no cerne do recado enviado por Jesus à igreja de Éfeso (Ap 2:1-7).
Éfeso era a principal cidade daquela região na Ásia Menor e era onde ficava a igreja mais influente. Nesta cidade estava localizado o mais famoso templo pagão “deusa Diana”, considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. Cristo se revela a igreja, lembrando-a da sua presença e cuidado constante: ele tem as sete estrelas em sua mão direita – isto é, cuida dos líderes – e anda no meio dos sete candeeiros – isto é, a igreja (v.1). Este Cristo que anda e conhece, faz algumas afirmações sobre a igreja de Éfeso.
A igreja de Éfeso era envolvida com a obra (v.2), perseverante em meio a tribulação (v.2-3), tinha discernimento espiritual (v.2) – os lobos foram e a igreja conseguiu rejeitar os lobos -, e era doutrinariamente íntegra (v.6). Contudo, Jesus tinha uma queixa contra ela. Apesar de estarem acertando em muitas coisas, este igreja errava no essencial.
A principal queixa dele, é que a igreja de Éfeso abandonou o “primeiro amor” (2:4). O que é o primeiro amor? Aqui é preciso um pouco de cuidado. A palavra grega traduzida por “primeiro”, neste texto, é protós. Trata-se de um adjetivo que pode significar: 1) “primeiro” no sentido de tempo; 2) “primeiro” no sentido de importância, posição ou primazia. Qual sentido é o mais correto?
Se Jesus empregou a palavra no primeiro sentido, ele estaria chamando atenção porque perderam o “amor” que tiveram no passado, no início da conversão. Ele estaria pensando simplesmente num amor que tiveram em determinado tempo da história de suas vidas. Para os que usam o termo neste sentido, o amor é quase sinônimo de entusiasmo. Pensa-se somente no início da conversão, quando as pessoas vem à Cristo com todo o “pique” e querem ganhar o mundo pelo evangelho.
Se Jesus empregou a palavra no segundo sentido, ele estaria chamando atenção da igreja para um fato gravíssimo: eles perderam o amor, que é o que de mais importante uma igreja pode ter. Que amor? O amor a Deus e o amor uns pelos outros! Qual é o maior mandamento? O amor a Deus. Ao referir-se ao mandamento do amor a Deus, Jesus disse: Este é o maior mandamento e o mais importante (Mt 22:38 – NTLH). Sabe qual a palavra grega foi traduzida, pelos tradutores da NTLH, por “maior” neste texto? Exatamente a mesma de Apocalipse 2:4: protós. Na sequência, Jesus disse que o amor uns pelos outros, é um mandamento semelhantemente importante (Mt 22:39-40). Toda a lei está baseada nisso: o amor a Deus e ao próximo.
Por isso, entendemos que, por “primeiro amor” Jesus está falando do amor como essência da vontade de Deus para nós, que é o que deve ser encarado como primordial numa igreja. Se errarmos nisso, todo resto não faz sentido.
Jesus não está pensando, então, no amor como uma experiência de entusiasmo do início da conversão, mas no amor que é o cerne do cristianismo, da igreja! Observe que na igreja de Éfeso não faltavam atividades. Estamos tratando de uma igreja ativa. Mas, falhavam no que era básico e essencial. Em meio à batalha por conservar a sã doutrina e a pureza moral e doutrinária, abandonaram o amor, o principal. Não amavam mais a Cristo e nem uns aos outros, como deveriam. A igreja cultuava sem amar, pregava sem amar, cantava sem amar, ofertava sem amar.
A igreja de Éfeso abandonou o que é principal! Por isso, Jesus a convida para o arrependimento como uma séria advertência: remover o candelabro dela (v.5). O candelabro representa a própria igreja. A igreja perderia a sua legitimidade de ser e existir como igreja, da perspectiva de Cristo. Uma igreja que não ama a Cristo e não ama uns aos outros, por mais que ela tenha atividades, ela não pode ser considerada igreja! Falta nela o que é essencial! Uma igreja que trabalha para Cristo, mas não o ama verdadeiramente, caminha para a morte: “tirarei o candelabro…”.
Cuidemos para não errar naquilo que é principal! Não descuidemos do nosso amor a Deus, e, por conseguinte, do nosso amor ao próximo. Ouçamos a voz do Espírito (v.7). Aos que vencerem, fora prometido “comer da árvore da vida”, que retrata a dádiva da vida eterna. No paraíso, Deus irá restaurar o relacionamento perfeito que existia no Éden antes que o pecado entrasse e minasse o relacionamento entre as pessoas e Deus, e fizesse com que estas começassem a errar no que é essencial: o amor.
Temos amado a Deus? Temos amado o nosso semelhante? Como está o nosso relacionamento com Cristo? Como está o nosso relacionamento com as pessoas que nos cercam? Não nos esqueçamos do amor, que é o principal.