Calma, antes de me julgar dizendo: “que absurdo, como alguém que se diz seguidor de Jesus defende a TV brasileira??!??” O título acima é exatamente a frase utilizada em uma campanha publicitária em minha região para incentivar aqueles que ainda não tem o sinal digital a obterem gratuitamente seu conversor, pois o sinal analógico foi completamente desativado.
O redator, que participou da criação da peça publicitária, se apegou claramente à cultura nacional, na certeza da forte presença da TV no lar dos brasileiros. E ainda mais, em casas onde não se tem acesso a contratação de TV a cabo ou provedores de conteúdo como a Netflix e afins. Para essas famílias, é sabido que a TV aberta é a principal fonte de entretenimento caseiro, onde se acompanham as notícias, as novelas, os jogos de futebol, os BBBs da vida, os programas de auditório e outras alternativas de gosto duvidoso.
Em outras palavras, ficar sem TV, para a campanha, é quase que um castigo que “ninguém merece”. Como muitos brasileiros, em minha casa já tem o sinal digital e não me senti alvo da campanha, mas achei interessante o apelo. Poucos dias depois comecei, confesso, a ter esse sentimento. Minha TV simplesmente parou de funcionar. Como eu e minha esposa temos uma vida bem agitada, passou quase duas semanas sem que conseguíssemos sequer levar o aparelho para o conserto. Essa semana, quando levei para uma assistência (pensamos em comprar outra, mas você sabe como anda a crise…) me pediram 5 dias úteis para obter o orçamento. Enfim, vamos ficar em casa, na melhor das hipóteses, por 20 dias sem assistir TV!!!
Preciso confessar, não é fácil. Já não assisto a Globo a algum tempo, mas tenho programas em outros canais que gosto. Meus filhos têm os desenhos que gostam. Minha esposa também tem suas preferências. É um hábito. A gente chega em casa à noite e liga a TV (antes que me julguem de novo, temos limites e horários para os filhos, bom senso e pouquíssimo tempo para assistir, mas não são essas coisas que estão em jogo nesse texto, por isso essa é minha última justificativa).
Esse tempo está me fazendo perceber o quanto a TV é presente para o brasileiro médio. Ela faz parte da nossa rotina e mesmo com notebooks, smartphones e outros dispositivos, ela ainda tem um papel muito central na vida das famílias. Ao mesmo tempo em que estamos vivendo um momento de enfrentamento entre artistas e o mundo cristão (católicos e evangélicos) quanto as posturas adotadas diante do que é arte ou não e mais uma vez se levantam vozes, como de tempos em tempos, para que não se assista mais a Globo e seus programas!
Esses últimos dias me fizeram perceber que a questão é mais séria do que uma emissora. É todo um sistema que quase nos escraviza e nos torna passivos, tirando o convívio, diminuindo as conversas em família, editando nossas conversas e direcionando nossas opiniões. É toda uma cosmovisão sendo formada e, anestesiados, não percebemos.
A Globo pode não ser mais o meu ou o seu problema, mas se não atentarmos outras emissoras e outros programas podem ser. Afinal, inconscientemente acreditamos que “não merecemos” ficar sem ver TV e aí transferimos a culpa para uma emissora e, então, nos sentimos em paz com nossa consciência para assistir outros canais e o processo é tão parecido, mas pelo menos estamos gritando com a maioria evangélica contra a vênus platinada.
A galera mais nova, então, já nem assiste muito TV, mas a mentalidade está sendo formada por outras mídias, que tem seu valor, mas também tem seus conteúdos nocivos. Precisamos repensar a nossa crítica. Ela não pode ser somente contra uma emissora (ainda que a crítica seja válida), ela tem que refletir sobre o sistema como um todo. Só assim, mais uma vez o imperativo de Paulo para os romanos torna-se palavra viva de Deus para nossa geração: “não vos conformeis ao padrão do tempo presente, mais transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” – Romanos 12:2.
Quando eu consertar a minha TV ela vai voltar para o seu lugar na sala de casa e, com toda sinceridade, voltarei a ver aqueles programas que gosto. Agora, não posso me conformar a ela, não posso torna-la indispensável, ela não pode moldar a minha família, nenhum canal, nenhuma pauta, nenhuma opinião de algum pretenso especialista, afinal, vamos e venhamos: ninguém merece ter sua vida moldada pelo que a TV diz.