Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz, e siga-me (Lc 9:23 – grifo nosso).
Jesus começa com um: “Se alguém quer…”. Quem é alguém? Alguém é qualquer pessoa em qualquer lugar. Tanto eu quanto você nos encaixamos ao convite. O convite de Jesus para este alguém é antecedido por um “Se”: “Se alguém quer…”. Esta palavrinha mostra que a decisão por seguir Jesus é voluntária. Ninguém é obrigado a aceitar. Contudo, aqueles que a aceitam, não podem fazer por empolgação. Segui-lo não pode ser uma aventura. Não pode ser um compromisso assumido passionalmente, por emoção, entusiasmo. Então, ninguém é obrigado a seguir Jesus, mas aqueles que desejam fazê-lo, não podem entrar de modo irresponsável nesta relação.
O que Jesus deseja, então, daqueles que o seguem? Em primeiro lugar, se alguém deseja realmente segui-lo, deve negar-se a si mesmo. E o que isto significa, exatamente? Primeiro deixa eu lhe dizer o que não significa. Jesus não quis dizer que devemos negar coisas a nós mesmos. Deixar de comer doces, beber refrigerante, entrar no facebook, ou algo do tipo. Não! Devemos deixar a nós mesmos! Às vezes, negar a nós mesmos significara deixar de fazer algumas coisas, comer algumas coisas, mas, isto porque, a partir do momento que eu digo sim para Cristo, a minha vida passa a ser controlada pela vontade dele!
A palavra original grega para negar-se significa “recusar-se associar-se com”. A idéia é que se você decidiu ser discípulo de Jesus você deve se recusar a associar com a pessoa que você é. Você está cansado do seu eu pecaminoso e não quer mais ligação com ele. Você precisa fazer uma ruptura com o seu eu.
Para negar-se a si mesmo é preciso renunciar voluntariamente qualquer direito de planejar ou escolher, e reconhecer seu senhorio em todas as áreas da sua vida. E porque isto é tão importante? Pois bem, este convite de Jesus é importante, pois está muito coerente com o conceito de pecado encontrado na Bíblia. Deus, que sempre foi Rei, criou um mundo perfeito e reinava absoluto com todas as coisas em harmonia. Até que um dia o ser humano, regente de sua criação, decidiu afirmar seu “eu”, seu “ego”, sua vontade acima da vontade divina. Pecado, de acordo com a tradição cristã, é muito mais do que desobediência moral. O primeiro pecado foi muito mais do que um pecado digestivo. O ser humano estava se rebelando contra Deus. O pecado é um pretensioso grito de independência em relação ao Criador, que resulta sempre em morte.
É por isso mesmo, que o caminho de volta para Deus, passa pela negação do “ego”, do “eu”. Se o pecado é abandonar Deus e pretender viver como se ele não existisse, a reconciliação com Deus implica o caminho oposto. Deixo de achar que consigo viver sozinho, sem Deus. Morro para mim, pra minhas vontades, para viver para ele! Negar-se a si mesmo, significa, então, completa submissão ao senhorio de Cristo, em que o ego não tem nenhum direito ou autoridade. Significa que abdico do trono.
Quando negamo-nos a nós mesmos, reconhecemos Deus como Rei sobre a nossa vida, novamente, como era no princípio. Esta é uma condição indispensável a quem almeja ser um verdadeiro discípulo de Cristo. Então, se você realmente quer ser um discípulo de Jesus, deixe de pensar um pouco em você. Deixa de achar que o mundo gira em torno de você e do seu umbigo, dos seus pares de sapato. Você não é rei! E se achar que é, está perdendo tempo ao lado de Jesus. Ele não divide o trono dele com ninguém.
Deixe de viver como se Jesus não existisse. Por favor! Não namore como se Jesus não existisse. Não vá ao shopping como se Jesus não existisse. Não entre numa sala de cinema como se ele não existisse. Não navegue na internet como se ele não existisse. Não vá para o seu trabalho como se Deus não existisse. Viva para ele. Faça como Paulo: já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim (Gl 2:20).