Você já sentiu dor no “tucuvelo”?

Minha filha de 6 anos estava no carro com os tios indo para a igreja quando o primo, da mesma idade, bateu o braço e reclamou de dor no “tucuvelo”. A Isabela, com toda a sua sabedoria de 6 anos, ao ouvir o que o primo havia errado a palavra cotovelo, rapidamente se apressou em corrigi-lo com ar de superioridade, e aquela expressão de desaprovação na face que às vezes usamos quando alguém fala uma besteira: “Earr!!! Não é tucuvelo, é TOCOVELO!!“. Poderíamos até dizer que a intenção foi boa, mas o fato é que não deu certo. Mesmo toda cheia de si, e se sentindo em condições de corrigir o primo, o erro permaneceu e sobrou uma piada para rirmos um pouco e também para refletirmos.

Uma das coisas que chamou a minha atenção nesse fato é que aparentemente é fácil, e talvez até mesmo comum, termos a mesma atitude quando nosso amigo, irmão ou conhecido erra, ou, para usar uma palavra muito comum no nosso linguajar, quando nosso irmão PECA. Pecar vem da palavra grega Harmatia que significa “errar o alvo”, então errar e pecar são bem próximos de sinônimos.

Sinceramente não sei se você vai concordar comigo, e se discordar pode enviar os seus comentários, mas tenho a sensação que nós, evangélicos de um modo geral, somos especialistas em julgar e corrigir os que erram, ou que caem em pecado, como se nós não errássemos ou já não pecássemos mais. Para piorar nós geralmente pegamos pesado com os pecados que julgamos mais escandalosos enquanto certos pecados ficam sem maiores considerações em nosso meio. Creio que por conta dessa postura de superioridade que manifestamos ao julgar os outros perdemos e magoamos as pessoas que tem seus pecados expostos, enquanto procuramos esconder os nossos para escaparmos das pedradas que poderiam ser atiradas contra nós, assim como nós atiramos contra os que tem os seus pecados revelados. Acho que complica ainda mais quando a pessoa é disciplinada por conta do pecado cometido, mas não e tratada e passa a se sentir abandonada na igreja, enquanto precisaria mais do que nunca de acolhimento, oração, direcionamento e acompanhamento mais de perto.

Quando olhamos nas escrituras o que nos ensinou Jesus sobre julgar os nossos semelhantes vamos encontrar recomendações bem objetivas e alertas que devemos levar em conta. Veja por exemplo Mateus 7:1-5:

 “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós. Por que reparas tu o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que está no teu próprio olho? E como podes dizer a teu irmão: Permite-me remover o cisco do teu olho, quando há uma viga no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão.”

Perceba que Jesus não diz que o outro não teria errado mas chama a atenção para o que se coloca na condição de juiz sobre o seu irmão deveria olhar antes a sua própria condição. Penso que esse é o ponto onde muitas vezes erramos, pois fácil dizemos “Earrr!! Você está errado!!” e não vemos os erros que nós cometemos.  Por isso o ponto para a nossa reflexão é avaliar se no geral somos JUIZO demais e AMOR de menos para com os que estão a nossa volta, sem considerar que também estamos sujeitos a erros, e consequentemente a julgamentos. Se formos pesquisar encontraremos que a Bíblia trata desse assunto em outras passagens também e nos orienta tratar os erros dos outros com cuidado e não simplesmente com pedras, como em João 8 no caso da mulher pega em adultério.

Não devemos ser coniventes com o erro, como Jesus nunca foi. Nem também juízes de todos pois não fomos chamados para esse papel. Muito menos ignorarmos os erros e deixarmos as pessoas se perderem nos seus pecados. Mas é na forma de tratar o problema que precisamos sabedoria e compaixão. Se o teu irmão pecar e você souber ajude-o a ser curado, a abandonar o pecado. Ore com ele. Chore com ele. Não o abandone. Não se sinta maior ou melhor porque não foi com você ou porque ele tem fraquezas em áreas que para você não são um problema. O problema do julgamento é não sermos capazes de ver o que as pessoas podem vir a ser quando deixam de errar, quando abandonam o pecado, e é nisso que Jesus é diferente pois ele vê o resultado da Sua graça em nossa vida. O pecado ele perdoa, apaga, esquece, joga simbolicamente nas profundezes do mar, e o pecador ele santifica, transforma, e ele pode ter sua vida totalmente mudada quando anda com Jesus. As coisas velhas ficam para trás e tudo mais se faz novo!! Só Jesus tem esse poder!!!

Pode ser que a gente olhe muito para o passado, ou que chamamos presente, das pessoas e por isso julgamos e condenamos, mas por não conseguirmos olhar o futuro exercemos o juízo com base no que as pessoas fizeram até aquele momento. Considere, porém, que se Jesus tivesse tratado você assim, somente pelos teus pecados e te abandonado, você nunca teria conhecido a sua infinita e maravilhosa graça!! Deus acreditou em você, apesar do pecado, e continua acreditando. Por isso fica o desafio de olharmos para as pessoas com os mesmos olhos que Jesus olha para nós, conforme as palavras de João 8:11: “E assim lhe disse Jesus: “Nem Eu te condeno; podes ir e não peques mais”.

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